Por Raoni Alves
O gigante não tem mais dois anéis de arquibancadas, não tem mais a mesma
dimensão de campo, não comporta mais 100 mil pessoas, não têm mais véu de noiva
e muito menos a democrática geral. Ele não é mais do povo, ele não é mais dos
clubes e nem mesmo é do Estado do Rio de Janeiro. Também a partir de agora, não
tem mais banheiros nojentos, filas intermináveis, superlotação e não tem mais
procissão de torcedores saindo por apertadas rampas de acesso. Não tem mais
policia militar, nem fosso dividindo o campo da torcida. Tenho duvida se ainda
teremos torcida ou agora estaremos na plateia?
O gigante não tem mais bandeirão e nem bandeira. Permitidas, agora, só
aquela patrocinada e no diminutivo. Será que vamos ter que comprar cachecol
para o nosso verão? Não temos mais pó de arroz, nem fogos de artifício. Não
temos mais torcida organizada e nem cerveja gelada. Agora é lugar marcado e
animador de circo. É musica alta no som potente. Abriram o porta-malas e o som
não está agradando. Não quero tchu, nem quero tcha... Trocamos a charanga pela
caxirola. Trocamos a festa de nossos sonhos pelos aplausos do teatro. Bonito
também, mas muito polido e educado para quem ama suas cores.
Essas foram as mudanças. Não temos o que fazer. Evolução é isso. Será
que é mesmo? Achei que tivéssemos o direito de evoluir junto. Se vivêssemos
numa democracia talvez. Mas na ditadura dos cifrões, foda-se a sua opinião. Me
desculpem as palavras, mas é isso. É assim com o transporte, com a educação,
com a saúde... não seria diferente com o nosso Maracanã.
Eu sou a favor de um estádio moderno, com cadeiras limpas, banheiros
cheirosos, torcedores educados, campos sem fronteiras, visão privilegiada e
acesso fácil. Mas também sou a favor de ingresso a R$ 10, abraço suado de novo
melhor amigo, choro emocionado e palavrões ao juiz, aquele grandessíssimo filho
da p... Com todo respeito à senhora sua mãe, é claro.
Temos que lembrar que o mundo mudou. O ano de 1950 esta bem distante. O
futebol é outro. A violência aumentou, a corrupção não diminuiu, a inflação
diminuiu e depois aumentou... Enfim... Tudo que foi feito no Maracanã foi feito
pensando na final da Copa do Mundo de 2014. E eu apoio! Só não venham querer
ensinar a abelha a fazer mel. Torcer a gente sabe como é e podemos até ensinar.
No quesito festa, somos especialistas. Nessa hora, podemos lembrar que quando
os ingleses trouxeram o "football" para o Brasil, as
"bancadas" eram formadas pela alta sociedade, que vestida a caráter,
tinha o direito de assoviar, vaiar e aplaudir. Nada mais.
Nós mudamos. EVOLUÍMOS! Fizemos os estádios pulsarem. Apesar da
violência, geraldinos e arquibaldos representam a pureza e a sinceridade. Somos
espontâneos. Infelizmente eles não souberam aproveitar esse espetáculo para a
Copa do Mundo. Paciência! Agora que a pontual e suíça FIFA trouxe o padrão Copa
do Mundo, vamos adapta-lo a nossa cultura.
O que eu quero com isso
tudo é aplaudir o novo Maraca. Mas não só aplaudir. Quero gritar e pular por
todos os lados. De verdade. Não sou desses que prefere o Maracanã antigo.
Gostei do novo. É magnífico. Grandioso. Parecido com outros espalhados pelo
mundo, é verdade, mas ainda assim único. Parecido não é igual. Meu último
argumento a favor do novo Maraca é que ao entrar novamente naquele templo da bola, os olhos marejaram,
os pelos arrepiaram, as memórias renasceram e o peito voltou a inflar a espera
de mais um momento mágico no "palco sagrado". A espera de mais um
grito de “Gooooooooooool”.



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