quinta-feira, 5 de julho de 2012

"MERECIBILIDADE"


Não haveria no mundo para mim qualquer outra palavra para definir o título deste post. "Merecibilidade", isto mesmo caro leitor, considere isto uma pequena homenagem ao cara, que em minha humilde opinião, foi  responsável por curar esta grave doença sofrida por mais de 30 milhões de torcedores corinthianos, a tal da Libertadores.

Fernando Carregal

Tite, para mim é o maior "culpado" pelo fim do estigma e início de uma nova era no futebol brasileiro. Isto mesmo, o treinador gaúcho, com esta conquista, pode liderar mudanças sérias e por muito tempo requisitadas em nosso futebol. Como já reparou, não falarei da Libertadores do Sport Club Corinthians Paulista em si, até porque muitos jornalistas e blogueiros mais competentes o fizeram aos montes no dia de hoje. Preferi olhar por outro prisma, e ressaltar Tite, sua "conquistabilidade" e o futuro tático dos clubes brasileiros.








Janeiro de 2011, Tolima, Ronaldo, Roberto Carlos. Mesmo com o título de ontem, tenho certeza que pelo menos algumas destas palavras ainda causam arrepio nos torcedores alvinegros. O que parecia uma jornada tranquila de dois jogos rumo à caminhada ao título continental, tornou-se um dos capítulos mais vergonhosos e difíceis do clube paulista. Acredito piamente que deixando de lado o rebaixamento em 2007 e a perda da semi-final da Libertadores de 99 contra o Palmeiras - nos pênaltis - a eliminação para a equipe colombiana  de quase nenhuma expressão foi o evento que mais causou dor ao 'louco' torcedor do Timão.
É aí que entra meu personagem principal nesta história: Tite. Em meio ao turbilhão em que se encontrava, com carros apedrejados, agressões e até ameaças de morte, o natural era que o técnico fosse demitido, e dali, após mais uma vez toda a culpa do mundo do futebol ser jogada às costas de algum treinador, o trabalho seria retornado, como se nada tivesse ocorrido. Consciente desta maldita prática do futebol brasileiro de sempre se jogar a culpa no técnico, Tite entregou seu cargo à Andrèz Sanchez, naquela época presidente do Corinthians. O mandatário alvinegro, não só recusou a demissão do treinador, como veio à público dar suporte a ele, comentando que o peso da eliminação não era só de Tite, mas sim de todo o planejamento realizado pela diretoria. Ponto para Andrèz, ponto para o Corinthians.
Ao receber uma segunda chance, Tite deu início ao processo que culminou com a conquista de ontem. Primeiramente, ganhou mais confiança da diretoria, e com esse respaldo, também conseguiu ganhar o vestiário, algo muito complicado de se fazer nos dias de hoje. O treinador com fala difícil, teve liberdade para montar seu elenco, e com isso, deixou de lado medalhões (ressalva para a chegada trágica de Adriano, depois dispensado), e com isso, conseguiu construir bases sólidas para exercer suas ideias táticas. Com jogadores voluntariosos e abraçados à qualquer ação do treinador, Tite manejou a implementação de um estilo europeu no Corinthians, com a utilização de duas linhas de quatro, compactadas e que ao mesmo tempo que produziam posse de bola, conseguiam dar combate e pressionar o time adversário. A "treinabilidade" aplicada por Tite deu resultado, o Timão foi ganhando confiança, sobriedade e principalmente conhecimento de suas limitações. Com isso, veio o título brasileiro e mais uma vez a desejada disputa da Taça Libertadores da América.
Gato Escaldado, o Corinthians, tanto sua diretoria, como seu elenco e principalmente seu treinador, procurou manter a base e encarar a competição continental com a naturalidade de um amistoso. Deu certo, e invicto - foram 14 jogos - Tite conquistava o sonhado e tão desejado título que faltava à sala de troféus do Parque São Jorge.
A conquista pessoal do treinador e a conquista da equipe paulista nos demonstram dois fatos interessantes e atualmente muito debatidos no futebol brasileiro; a manutenção dos técnicos e a aplicação tática diferenciada. Tite provou que dar tempo a um treinador vale a pena, deixar 'o cara' trabalhar e construir alicerces com os jogadores dá resultado, e principalmente, que atualmente, não se pode deixar de jogar sem a bola. A marcação e a ocupação de espaços sem a pelota se tornou tão importante quanto possuir um craque no time. Tite demonstrou que com trabalho duro, confiança e conhecimento tático, o futebol brasileiro pode evoluir, e assim aliar técnica apurada (que passe do Danilo!) com a compactação dos esquemas táticos ( o Boca não respirou e não conseguiu trocar bolas da defesa para o meio com liberdade, devido à execução quase perfeita do esquema de Tite, por parte de seus comandados).
Ontem, o Corinthians engoliu o Boca, e Tite,com uma justíssima 'merecibilidade' foi o personagem principal desta grande história...