quinta-feira, 6 de outubro de 2011

VITÓRIA POR NOCAUTE


Mais de 20 mil pessoas compareceram ao HSBC Arena, no Rio
de Janeiro, para prestigiar a edição histórica do UFC Rio

Mais de 20 mil pessoas presentes, 30 milhões de TVs brasileiras ligadas no evento, 135 países conectados, 597 milhões de lares no mundo esperando pelo momento decisivo e um impacto econômico de US$ 50 milhões na cidade do Rio de Janeiro. Não, não estamos falando de Copa do Mundo e nem de Jogos Olímpicos. Esses são os números da edição 134 do Ultimate Fighting Championship, batizado como UFC Rio, que parou o país no último dia 27 de agosto. O evento mostrou como uma prática estigmatizada, tida como violenta no fim dos anos 90, hoje se tornou o esporte que mais cresce no país. 

Em 1997, depois de uma série de incidentes envolvendo praticantes de artes marciais, a sociedade exigia repressão aos maus atletas. O então governador do Rio, Marcelo Alencar, sancionou a Lei de Nº 2805, que obrigava todo aluno de artes marciais a serem fichados na Secretaria de Estado de Segurança Pública. "Apesar da boa intenção da lei, pois na época tínhamos problemas com pitboys, hoje o momento é outro", comentou o deputado Pedro Fernandes (PMDB), que esteve na Arena HSBC para curtir o UFC Rio. Foi pensando em combater o preconceito contra os lutadores e em eliminar da legislação estadual normas impossíveis de serem executadas, que o deputado Pedro Fernandes, através da comissão especial do Cumpra-se da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), conseguiu a aprovação da Lei nº 5945, que derrubou a determinação contra esses atletas. "Com a antiga lei, eu e meu filho éramos criminosos sem saber. Sem duvida é excelente que o MMA (Mixed Martial Arts) faça parte do dia-a-dia da cidade. Antes, o vale tudo não tinha regras e era violento. Hoje, estamos falando do segundo esporte mais praticado do Brasil", comentou o parlamentar.

As lutas de MMA, conhecido antigamente como Vale-Tudo, contam com diversas regras para proteger a integridade dos atletas. Muitos golpes não são permitidos, como cabeçada, dedo no olho e chutes com o adversário com quatro apoios no chão. "O MMA é um esporte com regras cada vez mais rígidas. São diversas artes marciais usadas em conjunto. Os participantes se respeitam, treinam juntos e são exemplos para diversas crianças. O esporte se profissionalizou e merece respeito, por tirar diversos jovens das ruas", explicou o deputado Luiz Martins (PDT), autor do projeto de lei nº 175/2011, que pretende regulamentar a realização de eventos desse tipo no estado.

O professor das academias Nova União e Pró Forma, Rafael Vinícius Bertho, faixa preta de Kickboxing e de Muay Thai, acredita que a falta de informação é o principal adversário. "O preconceito existe pela falta de conhecimento. Eu posso garantir que o esporte tem menos contusões que o futebol, por exemplo", comentou Rafael. Um duelo de MMA pode acabar por nocaute, finalização ou por interrupção (árbitro ou médico). Três juízes ficam do lado de fora do octógono analisando todos os movimentos dos lutadores. Os combates duram até três rounds de cinco minutos. Lutas que valem cinturão, como entre Anderson Silva e Yushin Okami, no UFC RIO, duram cinco rounds de cinco minutos. "O brasileiro está aprendendo a amar esse esporte, que alem de crescer está mudando a vida de muita gente", disse Rafael Bertho, que lembrou que os competidores devem usar luvas e protetores bucais e genitais para prevenirem acidentes. 

De acordo com a psicóloga Marta Garcez, do Departamento Médico da Alerj, ao contrário do que muita gente acha, a promoção de eventos de luta não estimula a violência. “Não acredito que a promoção desses eventos estimule a violência. Não podemos generalizar”, explicou. Garcez disse ainda que a prática de esportes ajuda a extravasar o estresse acumulado no cotidiano. “Para as crianças é bom que elas estornem sua adrenalina e sua energia. Existem vários lugares onde se pode buscar o aprendizado da luta, que zelem pelo cuidado e disciplina psicológica do atleta. A luta deve formar atletas e não pitboys”, ressaltou a doutora.

Na luta pelo reconhecimento das artes marciais, o deputado Édino Fonseca (PR), autor do projeto de lei 2.941/10, que institui o jiu-jítsu como patrimônio do estado do Rio de Janeiro, acredita que a iniciativa pode ajudar a combater o preconceito. “O jiu-jítsu é uma arte marcial desenvolvida aqui. Por esse motivo, mereceu o reconhecimento. Não há violência no esporte, tanto que existe um árbitro para interromper a luta, em qualquer momento, desde que ele perceba que um dos lutadores não tem mais condições de continuar", analisou o parlamentar.

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